sábado, 15 de outubro de 2016

Inteligência

Para Wallon a inteligência surge depois da afetividade e a partir do desenvolvimento motor. A cognição é percebida como parte da pessoa completa que só pode ser compreendida integrada a ela, cujo desenvolvimento se dá a partir das condições orgânicas e é resultante da integração entre o ser e o meio ambiente, caracterizado pelo social. Assim, o desenvolvimento é condicionado tanto pela maturação orgânica, como pelo exercício funcional, propiciado pelo meio. Segundo Wallon  (1979):


O que permite à inteligência essa transferência do plano motor para o plano especulativo não é evidentemente explicável no desenvolvimento do indivíduo (...) mas nele pode ser identificada a transferência] (...) são as aptidões da espécie que estão em jogo, em especial as que fazem do homem um ser essencialmente social. (p.131)


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Pensamento e Linguagem


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Na teoria Walloniana a linguagem estrutura o pensamento, sendo um instrumento indispensável para a atividade intelectual, tem grande impacto sobre o desenvolvimento do pensamento e da atividade global da criança, que poderá identificar, localizar e distinguir objetos, agrupando em caracterizações quanto à cor, tamanho, forma e etc. Wallon, citado por Galvão ressalta

A aquisição de linguagem representa, assim, uma mudança radical na forma de a criança se relacionar com o mundo. A linguagem, ao substituir a coisa, oferece a representação mental o meio de evocar objetos ausentes e de confrontá-los entre si. Os objetos e situações concretos passam a ter equivalentes imagens e símbolos, podendo assim, ser operados no plano mental de forma cada vez mais desvinculada da experiência pessoal e imediata. (1995, p.40)

A permanência e a objetividade da palavra permitem à criança separar-se de suas motivações momentâneas, prolongar na lembrança uma experiência, antecipar, combinar, calcular, imaginar, sonhar.
            Na lógica binária do pensamento, a criança pode associar uma idéia à outra devido à sonoridade das palavras, apresenta gosto por parlendas, versinhos  a essa dimensão poética da linguagem infantil.

Pensamento Sincrético


O pensamento sincrético é a mistura da realidade e fantasia e segundo Wallon, existem quatro características referentes ao sincretismo que são: fabulação, tautologia, elisão e contradição.
A fabulação refere-se a invenção de histórias e conceitos, a criança substitui a verdadeira realidade por uma aventura imaginária.


 A tautologia é a repetição de palavras com vistas a uma definição, quando a criança faz o uso de diferentes palavras para expressar uma ideia, sendo redundante.
A elisão pode aparecer em conversas que parecem não haver muito sentido, dando a impressão de estarem incompletas, ou até mesmo pela ausência de respostas às perguntas feitas, podendo ser devido a modificações fonéticas como no diálogo a seguir:
- Do que você está brincando?
- Eu não estou gritando.
- Mas eu perguntei do que você está brincando.
- Ué, de gritar e cantar e ser alto.
            A contradição é muito comum no pensamento infantil, pode ser usada para decidir ou explicar algo que não se conserva, sendo rapidamente substituída por outra, contraditória na expressão oral. Verifique no exemplo abaixo:
- Pode ser qualquer sabor de sorvete, mas eu quero de chocolate.

Pensamento Categórico


Wallon em sua teoria afirma que a criança não consegue pensar em unidades, mas pensa em pares, pois não discernem causa e efeito. Por isso a criança precisa de dois elementos para que um dê identidade ao outro, diferenciando-o e completando-o.

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A criança está, nesse estágio, aprendendo a diferenciar e a discriminar, começa a formar conhecimentos de si própria e reunir condições de se posicionar diante dos acontecimentos cotidianos, enquanto seu pensamento diferencia e identifica a si e ao outro. Categorizando, classificando as coisas e pessoas ao seu redor, nomeando, comparando e agrupando, ao mesmo tempo em que desenvolvem  atividades intelectuais em que ligam algo, entre o momento em que acontecem e as imagens, pessoas, acontecimentos, nas quais criam nexos lógicos e constroem unidades de pensamento. 


Emoção, segundo Wallon


Os estudos de Wallon buscam entender o sujeito em sua completude, pois para ele é difícil dissociar as áreas ligadas ao intelecto da afeição e do movimento no que tange o estudo do desenvolvimento humano. Segundo o autor, entende-se como afetividade os sentimentos de ordem psicológica tidos como “ponto central para a construção da pessoa”, já as emoções representam um campo da afetividade cuja causa é orgânica, ou seja, em um primeiro momento sua manifestação não é racional, apenas uma resposta do corpo a impulsos e espasmos.
A teoria Walloriana diz  que o sujeito é um ser social modelado através da relação com os seus familiares e com a sua cultura, tendo a emoção um papel pertinente na construção dessas relações. Além disso, ele também é biológico sendo seu o desenvolvimento físico afetado pelas emoções uma vez que estas alteram a sua respiração, seus os batimentos cardíacos e, consequentemente, o seu tônus muscular. Esse movimento de reciprocidade entre emoção e o movimento do corpo são condições essenciais para o desenvolvimento do sujeito. Segundo o autor, “o corpo toma forma e consistência através das emoções”.
Em um primeiro momento, as emoções do sujeito são meramente orgânicas, ou seja, são frutos de espasmos e reações de um corpo em desenvolvimento. Por exemplo, o espasmo do intestino nos primeiros meses de vida da criança provoca o seu choro, mas ela não tenciona fazê-lo a fim de ser acudida, contudo, o seu pranto causa uma reação em seus familiares que se mobilizam para suprimir o seu incômodo devido ao contágio que as emoções provocam.“O contágio das emoções [...] decorre de seu poder expressivo, sobre o qual se fundaram as primeiras cooperações do tipo gregário”. (WALLON, 2010, p. 71).                                                                                                                                                                                                                                                                
Segundo a teoria Walloriana, as emoções são inerentes à sobrevivência da espécie uma vez que a sua relação com o adulto garante a supressão de suas necessidades básicas e contribui para o seu desenvolvimento saudável. A fase compreendida entre 0 a 1 ano de idade é nomeada pelo autor como impulsivo-racional, nesta fase é notória a expressividade da criança como principal meio de comunicação entre ela e o adulto.
Wallon acreditava que é por intermédio das emoções que a criança se relaciona com o mundo, constrói a sua inteligência e a sua personalidade. Quando uma criança manifesta seus sentimentos através da birra, muitas vezes, o adulto não entende que essa é uma reação normal, que favorece a construção de sua identidade, por isso, não adianta tentar argumentar racionalmente com a criança num momento de crise como esse, a emoção tende a alterar a capacidade de raciocínio lógico do sujeito e alteram o seu comportamento visto que o corpo da criança encontra-se em uma turbulência emocional. Essas manifestações emocionais fazem parte da construção do “eu” da criança, que vai se delineando pouco a pouco.
A medida que a criança cresce ela se torna mais racional e as emoções tendem a ser controladas tornando-se, muitas vezes, coadjuvantes no seu processo de interação com o mundo: cria-se, então, uma dualidade entre emoção e razão. É difícil pensar racionalmente quando o corpo está imerso em reações químicas causadas pela excitação que as emoções causam, por isso, o uso racional de nossas faculdades mentais é tão valorizado por nossa cultura.

Todavia, Wallon acreditava que as emoções precedem a linguagem e  representam a primeira forma de comunicação social do indivíduo. Para ele, é este diálogo entre o biológico e o social que conduz o ser humano ao desenvolvimento de suas capacidades cognitivas. 

Para saber mais acesse:

Fase Social

Sobre o sujeito social e suas relações, para Wallon (1981), o ser humano se constrói na relação com o outro. A individualidade só se faz possível no social. Toda função psicológica superior evidencia-se em dois momentos: primeiro no social e depois no individual, por meio de uma apropriação ativa, marcando as diferenças individuais. A apropriação é o processo de internalização das experiências que acontecem na relação, no social. É a passagem do inter para o intrapsicológico, significando que toda função existente no sujeito apareceu antes no social, na relação.
 Foto: Emília Brandão
Desde o momento em que nasce, a criança tem seus gestos e atitudes significados pelo outro. Ao se apropriar dessa significação, toma contato com a história, a cultura e a ideologia do social no qual está inserida.
           Para Wallon (1981)  só podemos compreender a individualidade como construção social. Desde a simbiose emocional, passando pela autonomia do sujeito, o outro é o eterno parceiro na vida psíquica, seja como modelo, seja desempenhando papel complementar ou de oposição.
           Wallon considera que a educação deve integrar à sua prática e aos seus objetivos duas dimensões: a social e a individual, atendendo, portanto, simultaneamente, à formação do indivíduo e da sociedade. Da psicogenética walloniana não resulta meramente uma pedagogia conteudista, limitada a propiciar a passiva incorporação de elementos da cultura do sujeito, mas sim uma prática em que a dimensão estética da realidade é valorizada, e a expressividade do sujeito ocupa lugar de destaque.
           O processo de construção da personalidade que, em diferentes graus, percorre toda a psicogênese traz como necessidade fundamental a expressão do eu. A escola, além de aumentar o grupo de relacionamento da criança, possibilita uma vivência social diferente do grupo familiar; desempenha, então, um papel importantíssimo na formação da personalidade da criança. Quando participa de grupos variados, a criança assume papéis diferentes e obtém uma noção mais objetiva de si própria. Quanto maior a diversidade dos grupos, mais numerosos serão seus parâmetros de relações sociais, o que enriquecerá sua personalidade.
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Etapas do desenvolvimento segundo Wallon


Período da Vida Intrauterina: Dependência biológica do organismo materno, mas já se faz presente no meio social.



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Estágio Impulsivo: Após o nascimento a criança depende de si própria em relação a respiração e a capacidade de auto regulação da temperatura do seu organismo, não restritamente depende da mãe.Sua dependência com o meio, especialmente com a mãe é de total exigência e atenção. A importância dessa atenção refere-se ao desenvolvimento psíquico e físico. É período das necessidades alimentares e posturais. A criança começa a conhecer os sofrimentos da espera e da privação. Os primeiros gestos são manifestados a partir da emoção.

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Estágio Emocional: Por volta dos seis meses a criança manifesta um maior número de expressões emocionais como: raiva, dor tristeza, alegria, começa a engatinhar e por volta dos 9 meses desenvolve o humor. É importante desde o nascimento conversar com a criança, pois é por meio da linguagem que ela vai se apropriando da cultura em que está inserida.
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Estágio Sensório Motor: No primeiro ano de vida ao começo do segundo a criança procura explorar o mundo ao seu redor, suas principais atividades são a marcha e a fala, brinca com objetos e caminha.

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Estágio Impulsivo: Por volta dos 3 aos 6 anos a criança é opositora, imitadora, curiosa. Ela confronta com tudo sem motivo aparente. Tem necessidade de se afirmar de conquistar autonomia, é o período em que diz não a tudo, nesta fase a criança gosta de imitar um personagem, alguém preferido ou invejado, e o ambiente escolar e familiar são vitais para o seu desenvolvimento.

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Período da Puberdade: Varia dos 7 a aos 11 anos. Adolescência dos 12 aos 18 anos: Inicia-se o pensamento lógico e organizado, maior interesse pelas interações sociais, preocupa-se com o estilo de roupa e cabelo etc. Transformações e psicológicas, o jovem adquire posse da função reprodutora.

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Período da Fase Adulta: Aparentemente a pessoa atinge um equilíbrio entre a alternância de se voltar para o seu interior e o interesse pelo intelectual. Neste momento o adulto continua se desenvolvendo emocionalmente e intelectualmente.

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Histórico

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Henri Wallon

Henri Paul Hyacinthe Wallon nasceu na França em 1879. Viveu em Paris, num momento de instabilidade social e turbulência política: duas Guerras Mundiais, Regime Fascista, Revoluções Socialistas e guerras no continente africano que atingiram a França.
Graduou-se em Filosofia e Medicina. Atuou como médico do exército francês durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e em instituições psiquiátricas até 1931, atendendo crianças com distúrbios de comportamento e deficiências neurológicas, foi aí então que surgiu seu interesse pela pesquisa do desenvolvimento infantil.
Em 1925 fundou um laboratório para pesquisas e atendimento às crianças deficientes. Entre 1920 e 1937 realizou conferências em diversas instituições de ensino superior, sobre a psicologia da criança. Em 1948 criou a revista “Enfance”, que serve até hoje, de plataforma de novas ideias no mundo da educação, para psicólogos e educadores.

Henri Wallon faleceu na França em 1962 aos 83 anos de idade. 

Mais informações no vídeo abaixo da Coleção Grandes Educadores: