Para Wallon a inteligência surge depois da afetividade e a partir do desenvolvimento motor. A cognição é percebida como parte da pessoa completa que só pode ser compreendida integrada a ela, cujo desenvolvimento se dá a partir das condições orgânicas e é resultante da integração entre o ser e o meio ambiente, caracterizado pelo social. Assim, o desenvolvimento é condicionado tanto pela maturação orgânica, como pelo exercício funcional, propiciado pelo meio. Segundo Wallon (1979):
O que permite à inteligência essa transferência do plano motor para o plano especulativo não é evidentemente explicável no desenvolvimento do indivíduo (...) mas nele pode ser identificada a transferência] (...) são as aptidões da espécie que estão em jogo, em especial as que fazem do homem um ser essencialmente social. (p.131)
Na teoria Walloniana a linguagem estrutura o pensamento, sendo um
instrumento indispensável para a atividade intelectual, tem grande impacto
sobre o desenvolvimento do pensamento e da atividade global da criança, que
poderá identificar, localizar e distinguir objetos, agrupando em caracterizações
quanto à cor, tamanho, forma e etc. Wallon, citado por Galvão ressalta
A aquisição de linguagem representa, assim, uma mudança radical na forma
de a criança se relacionar com o mundo. A linguagem, ao substituir a coisa,
oferece a representação mental o meio de evocar objetos ausentes e de
confrontá-los entre si. Os objetos e situações concretos passam a ter
equivalentes imagens e símbolos, podendo assim, ser operados no plano mental de
forma cada vez mais desvinculada da experiência pessoal e imediata. (1995,
p.40)
A permanência e a objetividade da palavra permitem à criança separar-se
de suas motivações momentâneas, prolongar na lembrança uma experiência,
antecipar, combinar, calcular, imaginar, sonhar.
Na lógica binária do pensamento, a criança
pode associar uma idéia à outra devido à sonoridade das palavras, apresenta
gosto por parlendas, versinhos a essa dimensão poética da linguagem
infantil.
Pensamento
Sincrético
O pensamento sincrético é a mistura da realidade e fantasia e segundo
Wallon, existem quatro características referentes ao sincretismo que são:
fabulação, tautologia, elisão e contradição.
A fabulação refere-se a invenção de histórias e conceitos, a criança
substitui a verdadeira realidade por uma aventura imaginária.
A tautologia é a
repetição de palavras com vistas a uma definição, quando a criança faz o uso de
diferentes palavras para expressar uma ideia, sendo redundante.
A elisão pode aparecer em conversas que parecem não haver muito sentido,
dando a impressão de estarem incompletas, ou até mesmo pela ausência de
respostas às perguntas feitas, podendo ser devido a modificações fonéticas como
no diálogo a seguir:
- Do que você está
brincando?
- Eu não estou
gritando.
- Mas eu perguntei do
que você está brincando.
- Ué, de gritar e
cantar e ser alto.
A contradição é muito comum no pensamento
infantil, pode ser usada para decidir ou explicar algo que não se conserva,
sendo rapidamente substituída por outra, contraditória na expressão oral.
Verifique no exemplo abaixo:
- Pode ser qualquer
sabor de sorvete, mas eu quero de chocolate.
Pensamento Categórico
Wallon em sua teoria afirma que a criança não consegue pensar em
unidades, mas pensa em pares, pois não discernem causa e efeito. Por isso a
criança precisa de dois elementos para que um dê identidade ao outro,
diferenciando-o e completando-o.
A criança está, nesse estágio, aprendendo a diferenciar e a discriminar,
começa a formar conhecimentos de si própria e reunir condições de se posicionar
diante dos acontecimentos cotidianos, enquanto seu pensamento diferencia e
identifica a si e ao outro. Categorizando, classificando as coisas e pessoas ao
seu redor, nomeando, comparando e agrupando, ao mesmo tempo em que desenvolvem
atividades intelectuais em que ligam algo, entre o momento em que
acontecem e as imagens, pessoas, acontecimentos, nas quais criam nexos lógicos
e constroem unidades de pensamento.
Os estudos de Wallon buscam entender o sujeito em sua completude, pois
para ele é difícil dissociar as áreas ligadas ao intelecto da afeição e do
movimento no que tange o estudo do desenvolvimento humano. Segundo o autor,
entende-se como afetividade os sentimentos de ordem psicológica tidos como
“ponto central para a construção da pessoa”, já as emoções representam um campo
da afetividade cuja causa é orgânica, ou seja, em um primeiro momento sua
manifestação não é racional, apenas uma resposta do corpo a impulsos e espasmos.
A teoria Walloriana diz que o sujeito é um ser social modelado
através da relação com os seus familiares e com a sua cultura, tendo a emoção
um papel pertinente na construção dessas relações. Além disso, ele também é
biológico sendo seu o desenvolvimento físico afetado pelas emoções uma vez que
estas alteram a sua respiração, seus os batimentos cardíacos e,
consequentemente, o seu tônus muscular. Esse movimento de reciprocidade entre
emoção e o movimento do corpo são condições essenciais para o desenvolvimento
do sujeito. Segundo o autor, “o corpo toma forma e consistência através das
emoções”.
Em um primeiro momento, as emoções do sujeito são meramente orgânicas,
ou seja, são frutos de espasmos e reações de um corpo em desenvolvimento. Por
exemplo, o espasmo do intestino nos primeiros meses de vida da criança provoca
o seu choro, mas ela não tenciona fazê-lo a fim de ser acudida, contudo, o seu
pranto causa uma reação em seus familiares que se mobilizam para suprimir o seu
incômodo devido ao contágio que as emoções provocam.“O contágio das emoções
[...] decorre de seu poder expressivo, sobre o qual se fundaram as primeiras
cooperações do tipo gregário”. (WALLON, 2010, p. 71).
Segundo a teoria Walloriana, as emoções são inerentes à sobrevivência da
espécie uma vez que a sua relação com o adulto garante a supressão de suas
necessidades básicas e contribui para o seu desenvolvimento saudável. A fase
compreendida entre 0 a 1 ano de idade é nomeada pelo autor como
impulsivo-racional, nesta fase é notória a expressividade da criança como
principal meio de comunicação entre ela e o adulto.
Wallon acreditava que é por intermédio das emoções que a criança se
relaciona com o mundo, constrói a sua inteligência e a sua personalidade.
Quando uma criança manifesta seus sentimentos através da birra, muitas vezes, o
adulto não entende que essa é uma reação normal, que favorece a construção de
sua identidade, por isso, não adianta tentar argumentar racionalmente com a
criança num momento de crise como esse, a emoção tende a alterar a capacidade
de raciocínio lógico do sujeito e alteram o seu comportamento visto que o corpo
da criança encontra-se em uma turbulência emocional. Essas manifestações
emocionais fazem parte da construção do “eu” da criança, que vai se delineando
pouco a pouco.
A medida que a criança cresce ela se torna mais racional e as emoções
tendem a ser controladas tornando-se, muitas vezes, coadjuvantes no seu
processo de interação com o mundo: cria-se, então, uma dualidade entre emoção e
razão. É difícil pensar racionalmente quando o corpo está imerso em reações
químicas causadas pela excitação que as emoções causam, por isso, o uso
racional de nossas faculdades mentais é tão valorizado por nossa cultura.
Todavia, Wallon acreditava que as emoções precedem a linguagem e
representam a primeira forma de comunicação social do indivíduo. Para
ele, é este diálogo entre o biológico e o social que conduz o ser humano ao
desenvolvimento de suas capacidades cognitivas.
Sobre o sujeito social e suas relações, para Wallon (1981), o ser humano
se constrói na relação com o outro. A individualidade só se faz possível no
social. Toda função psicológica superior evidencia-se em dois momentos:
primeiro no social e depois no individual, por meio de uma apropriação ativa,
marcando as diferenças individuais. A apropriação é o processo de
internalização das experiências que acontecem na relação, no social. É a
passagem do inter para o intrapsicológico, significando que toda função
existente no sujeito apareceu antes no social, na relação.
Desde
o momento em que nasce, a criança tem seus gestos e atitudes significados pelo
outro. Ao se apropriar dessa significação, toma contato com a história, a
cultura e a ideologia do social no qual está inserida.
Para
Wallon (1981) só podemos compreender a individualidade como construção
social. Desde a simbiose emocional, passando pela autonomia do sujeito, o outro
é o eterno parceiro na vida psíquica, seja como modelo, seja desempenhando
papel complementar ou de oposição.
Wallon
considera que a educação deve integrar à sua prática e aos seus objetivos duas
dimensões: a social e a individual, atendendo, portanto, simultaneamente, à
formação do indivíduo e da sociedade. Da psicogenética walloniana não resulta
meramente uma pedagogia conteudista, limitada a propiciar a passiva
incorporação de elementos da cultura do sujeito, mas sim uma prática em que a
dimensão estética da realidade é valorizada, e a expressividade do sujeito
ocupa lugar de destaque.
O
processo de construção da personalidade que, em diferentes graus, percorre toda
a psicogênese traz como necessidade fundamental a expressão do eu. A escola,
além de aumentar o grupo de relacionamento da criança, possibilita uma vivência
social diferente do grupo familiar; desempenha, então, um papel importantíssimo
na formação da personalidade da criança. Quando participa de grupos variados, a
criança assume papéis diferentes e obtém uma noção mais objetiva de si própria.
Quanto maior a diversidade dos grupos, mais numerosos serão seus parâmetros de
relações sociais, o que enriquecerá sua personalidade.
Período da Vida Intrauterina: Dependência biológica do organismo materno, mas já se faz presente no meio social.
Estágio Impulsivo: Após o nascimento a
criança depende de si própria em relação a respiração e a capacidade de auto
regulação da temperatura do seu organismo, não restritamente depende da mãe.Sua
dependência com o meio, especialmente com a mãe é de total exigência e atenção.
A importância dessa atenção refere-se ao desenvolvimento psíquico e físico. É
período das necessidades alimentares e posturais. A criança começa a conhecer
os sofrimentos da espera e da privação. Os primeiros gestos são manifestados a
partir da emoção.
Estágio Emocional: Por volta dos seis
meses a criança manifesta um maior número de expressões emocionais como: raiva,
dor tristeza, alegria, começa a engatinhar e por volta dos 9 meses desenvolve o
humor. É importante desde o nascimento conversar com a criança, pois é por meio
da linguagem que ela vai se apropriando da cultura em que está inserida.
Estágio Sensório Motor: No primeiro ano de vida ao começo do segundo a criança procura explorar
o mundo ao seu redor, suas principais atividades são a marcha e a fala, brinca
com objetos e caminha.
Estágio Impulsivo: Por volta dos 3 aos 6 anos a criança é opositora, imitadora, curiosa.
Ela confronta com tudo sem motivo aparente. Tem necessidade de se afirmar de
conquistar autonomia, é o período em que diz não a tudo, nesta fase a criança
gosta de imitar um personagem, alguém preferido ou invejado, e o ambiente
escolar e familiar são vitais para o seu desenvolvimento.
Período da Puberdade:Varia dos 7 a aos 11 anos. Adolescência dos 12 aos 18 anos: Inicia-se o
pensamento lógico e organizado, maior interesse pelas interações sociais,
preocupa-se com o estilo de roupa e cabelo etc. Transformações e psicológicas,
o jovem adquire posse da função reprodutora.
Período da Fase Adulta:Aparentemente a pessoa atinge um equilíbrio entre a alternância de se
voltar para o seu interior e o interesse pelo intelectual. Neste momento o
adulto continua se desenvolvendo emocionalmente e intelectualmente.
Henri Paul Hyacinthe Wallon nasceu na França em 1879. Viveu em Paris,
num momento de instabilidade social e turbulência política: duas Guerras
Mundiais, Regime Fascista, Revoluções Socialistas e guerras no continente
africano que atingiram a França.
Graduou-se em Filosofia e Medicina. Atuou como médico do exército
francês durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e em instituições
psiquiátricas até 1931, atendendo crianças com distúrbios de comportamento e
deficiências neurológicas, foi aí então que surgiu seu interesse pela pesquisa
do desenvolvimento infantil.
Em 1925 fundou um laboratório para pesquisas e atendimento às crianças
deficientes. Entre 1920 e 1937 realizou conferências em diversas instituições
de ensino superior, sobre a psicologia da criança. Em 1948 criou a revista
“Enfance”, que serve até hoje, de plataforma de novas ideias no mundo da
educação, para psicólogos e educadores.
Henri Wallon faleceu na França em 1962 aos 83 anos de idade.
Mais informações no vídeo abaixo da Coleção Grandes Educadores: